Sobre trading systems automáticos e caixas pretas
Uma das críticas ouvidas no contexto de sistemas quantitativos e automáticos é que softwares de simulação de mercado são 'caixas pretas'.
O que é uma 'caixa preta'? É um sistema pronto para usar, mas que, para ser usado, o usuário não precisa entender absolutamente nada sobre como ele funciona.
As críticas a sistemas automáticos, que seriam caixas pretas, parecem ter vindo inicialmente do trader, e grande escritor de livros de análise técnica, Alexander Elder.
Ele usa o termo quase que pejorativamente apelando para um raciocínio travestido de lógica. Segundo esse raciocínio, ninguém que fosse dono de uma 'bola de cristal' iria vender essa bola de cristal por dinheiro algum. Logo sistemas 'caixa preta' e algoritmos nele baseados para 'prever' o mercado não funcionam, por definição.
Trata-se de um raciocínio apenas aparentemente correto. Vejamos os problemas: qualquer mecanismo ou dispositivo moderno se enquadra na categoria de caixa preta: desde automóveis (precisamos de entender de mecânica ou sistemas de combustão para dirigir carros?) até softwares de criptografia (quem aqui já procurou seu gerente para perguntar se é mesmo seguro fazer pagamentos pelo app do banco?) são sistemas do tipo caixa preta.
A lista não termina nunca: coca-cola (alguém sabe a composição de cada ingrediente da fórmula?), princípios ativos de vários remédios, até brinquedos de parques de diversão.
O problema com os críticos das caixas pretas no mercado é que eles se esquecem de aplicar o raciocínio a qualquer um que pretenda fazer previsões do mercado. O raciocínio por detrás da análise de gráficos leva as pessoas a procurarem prever o comportamento do mercado. A dizer que a partir de hoje ou amanhã o mercado fará esse ou aquele movimento.
Isso é realmente possível de ser feito ? Mesmo que o fosse, se alguém pudesse ter essa capacidade, seria razoável, pelo raciocínio de Elder, que ela distribuísse conselhos de investimento? Por que, da mesma forma que para os softwares 'caixa-preta', ela não os guardaria para si? Por qual impulso ele os iria distribuir?
Como se tratam de objetivos semelhantes (definir pontos de abertura e encerramento de posições), as mesmas críticas que podemos dirigir a sistemas de negociação mecânica são igualmente válidas a fundamentalistas e grafistas. Todas sem exceção. Mas as vantagens dos sistemas de simulação são maiores pois eles podem (desde que corretamente empregados) determinar medidas quantitativas para o grau de risco e o retorno esperado.
Voltemos ao exemplos de 'caixas-pretas' (carros, remédios, etc). Por que as pessoas os utilizam mesmo sem saber como eles funcionam? Porque elas sabem que funcionam. Todos sabemos a utilidade e funcionalidade de carros, por exemplo. Ainda ignorando o segredo por detrás do funcionamento dos motores dos automóveis, os utilizamos sob pena de chegarmos atrasados ao trabalho, por exemplo. Ainda desconhecendo todos os detalhes sobre como foi implementado o algoritmo que criptografa dados da transação eletrônica que envolve pagamentos on-line, utilizamos aplicativos bancários para não ter que gastar tempo na fila do banco. Qual a outra opção?
Assim, sistemas de negociação mecânicos do tipo 'caixa-preta' podem sim ser usados, e o usuário deve julgá-los pelo retorno que oferecem. Não só pelo retorno mas pela medida de risco a que sujeitam seus usuários (como no caso dos automóveis, sempre existe um risco em se pegar um automóvel e enfrentar o trânsito, mas o benefício supera o risco, na grande maioria das vezes). É a partir da maneira como tais métodos quantitativos funcionam e da utilidade do emprego desses sistemas que se pode separar o 'joio do trigo' e decidir quais os melhores sistemas e quais são realmente deficientes.


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